Nobel da Literatura 2011










BIOGRAFIA


O poeta sueco Tomas Tranströmer recebeu o Prémio Nobel da Literatura 2011.
Segundo a Academia Sueca, o prémio foi atribuído "porque, através das suas imagens translúcidas e condensadas, ele nos dá um novo acesso à realidade".
Tomas Tranströmer nasceu a 15 de abril de 1931 em Estocolmo é poeta, tradutor e psicólogo e, segundo a Academia Sueca, é "um dos poetas vivos mais traduzidos em todo o mundo", cuja obra incide sobre "a morte, a história, a memória e a natureza". Os seus trabalhos estão publicados em mais de 50 línguas.
Tranströmer iniciou-se na poesia aos 23 anos de idade. O seu primeiro livro intitulava-se 17 dikter (17 poemas). A maior parte da sua obra é escrita em verso livre, embora também tenha feito experiências com linguagem métrica.Apesar desta referência da Academia Sueca ao facto de Tranströmer ser um poeta muito traduzido, não há qualquer livro do novo Prémio Nobel publicado em Portugal. No entanto, em Portugal, Tomas Tranströmer está representado na coletânea 21 poetas suecos, editada pela Vega, em 1981.
A maior parte da sua obra está escrita em verso livre, apesar de ter feito também experiências com linguagem métrica. Exerceu a profissão de psicólogo até 1990, ano em que sofreu um acidente vascular cerebral que o deixou parcialmente afásico e hemiplégico. Vive atualmente numa ilha e continuou a escrever, tendo desde então publicado três obras.





POEMAS DE TRANSTRÖMER EM PORTUGUÊS
21 Poetas Suecos - Antologia de poetas suecos incluindo Tomas Tranströmer, organizada por Ana Hatherly e Vasco Graça Moura, publicada em 1981 pela editora Vega

PRÉMIOS E DISTINÇÕES

1988 - Prémio Pilot
1990 -
Prémio Literário do Conselho Nórdico
1996 -
Prémio August
2011 -
Prémio Nobel da literatura





BIBLIOGRAFIA
Lista de obras em sueco.
17 dikter, poemas, 1954, título em português: 17 poemas

Hemligheter på vägen, poemas, 1958

Den halvfärdiga himlen, poemas, 1962

Klanger och spår, poemas, 1966

Kvartett, 1967

Mörkerseende, poemas, 1970

Stigar, poemas, 1973

Östersjöar, poemas, 1974

Sanningsbarriären, poemas, 1978

Dikter 1954-78, 1979

PS, diktsamling, 1980

Det vilda torget, poemas, 1983, título em português: A praça selvagem
Dikter, 1984 (pocketutgåva)

För levande och döda, poemas, 1989, título em português: Pelos vivos e mortos

Dikter. Från "17 dikter" till "För levande och döda", 1990

Minnena ser mig, 1993, auto-biografia, título em português: As recordações vêem-me

Sorgegondolen, poemas, 1996, título em português: Gôndola dolente

Fängelse : nio haikudikter från Hällby ungdomsfängelse (1959), poemas, 2001

Den stora gåtan, poemas, 2004, título em português: O Grande Enigma




VERSOS


LISBOA
No bairro de Alfama os eléctricos amarelos cantavam nas
subidas.
Havia duas prisões. Uma delas era para os gatunos.
Eles acenavam através das grades.
Eles gritavam. Eles queriam ser fotografados!

"Mas aqui", dizia o revisor e ria baixinho, maliciosamente,
"aqui sentam-se os políticos". Eu vi a fachada, a fachada, a fachada
e em cima, a uma janela, um homem,
com um binóculo à frente dos olhos, espreitando
para além do mar.

A roupa pendia no azul. Os muros estavam quentes.
As moscas liam cartas microscópicas.
Seis anos mais tarde, perguntei a uma dama de Lisboa:
Isto é real, ou fui eu que sonhei?

Tomas Tranströmer
tradução de Luís Costa

FUNCHAL
O restaurante do peixe na praia, uma simples barraca,
construída por náufragos.
Muitos, chegados à porta, voltam para trás, mas não assim
as rajadas de vento do mar.
Uma sombra encontra-se num cubículo fumarento e assa
dois peixes, segundo uma antiga
receita da Atlântida. Pequenas explosões de alho.
O óleo flui nas rodelas do tomate. Cada dentada diz-nos que
o oceano nos quer bem,
um zunido das profundezas.

Ela e eu: olhamos um para o outro. Assim como se trepássemos
as agrestes colinas floridas,
sem qualquer cansaço. Encontramo-nos do lado dos animais,
bem-vindos, não envelhecemos. Mas já suportámos tantas
coisas juntos, lembramo-nos disso, momentos em que
de pouco ou nada servíamos (por exemplo, quando esperávamos
na bicha para doarmos sangue ao saudável gigante –
ele tinha prescrito uma transfusão).
Acontecimentos, que nos poderiam ter separado, se não nos tivessem
unido, e acontecimentos
que, lado a lado, esquecemos – mas eles não nos esqueceram!
Eles tornaram-se pedras. Pedras claras e escuras. Pedras de
um mosaico desordenado.
E agora mesmo acontece: os cacos voam todos na mesma direcção,
o mosaico nasce.
Ele espera por nós. Do cimo da parede, ilumina o quarto de hotel,
um design, violento e doce,
talvez um rosto, não nos é possível compreender tudo, mesmo
quando tiramos as roupas.

Ao entardecer, saímos.
A poderosa pata azul escura da meia ilha jaz expelida sobre o mar.
Embrenhamo-nos na multidão, somos empurrados, amigavelmente,
suaves controlos,
todos falam, fervorosos, na língua estranha.
“ Um homem não é uma ilha “

Por meio deles fortalecemo-nos, mas também por meio de
nós mesmos. Por meio daquilo que
existe em nós e que o outro não consegue ver. Aquela coisa
que só se consegue encontrar
a ela própria. O paradoxo interior, a flor da garagem, a válvula
contra a boa escuridão.
Uma bebida que borbulha nos copos vazios. Um altifalante
que propaga o silêncio.
Um atalho que, por detrás de cada passo, cresce e cresce.
Um livro que só no escuro se consegue ler.

Tomas Tranströmer
tradução de Luís Costa


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